No Brasil, Jornada Mundial dos Pobres acontece de 8 a 15 de novembro

Thiago Coutinho
Da redação

Inspirado no Jubileu da Misericórdia, em novembro de 2016 o Papa Francisco decidiu instituir o Dia Mundial dos Pobres, celebrado anualmente no penúltimo domingo do ano litúrgico – em 2020, 15 de novembro. No Brasil, a data, que teve suas celebrações marcadas de 8 a 15 de novembro, será organizada pela Cáritas, numa missão confiada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Este ano, com as limitações impostas pela pandemia causada pelo novo coronavírus, as celebrações passarão por algumas limitações — mas não deixarão de serem realizadas. Segundo Roberto Saraiva, membro da coordenação colegiada do Serviço Pastoral dos Migrantes e da equipe de organização da Caritas-CNBB, haverá um seminário virtual para que o tema da campanha, “Estende a tua mão ao pobre”, seja debatido.

“Há uma solidariedade aí fora que pode ser explorada em meio a esta situação de descalabro causada pela pandemia”, afirma Saraiva. “Temos que promover políticas públicas que incluam todos, homens e mulheres, pois é no Evangelho que alimentamos a nossa espiritualidade e somos interpelados a ser Igreja em saída”, acrescenta.

Mensagem

A data também visa despertar na sociedade a noção de que as inequidades sociais não podem mais crescer. “E só podemos fazer isto em comunhão, em consenso, com políticas públicas que atendam a todos os mais necessitados. A pandemia é mais um elemento que veio degradar a vida humana”, pondera Saraiva. 

A campanha planeja abrir os olhos do mundo àqueles que vivem à margem da sociedade. “É uma campanha que propõe que o outro seja visto além de suas cores e raças, que estende sua mão ao outro, olhe em seus olhos e veja se você se enxerga nela”, analisa Saraiva.

A pandemia, segundo Saraiva, deixou às claras um lado mais vil das pessoas. “Ela nos mostrou como nos deixamos apequenar pelo ter, pelo consumo. Se estivéssemos numa sociedade mais justa, haveria muito menos impacto. E a campanha visa nos mostrar isto, a Igreja quer reforçar o conceito de nos reconstruirmos enquanto seres humanos, em nossas religiões, de nos pensarmos enquanto seres que buscam o Reino de Deus, para mim, enquanto cristão católico, e aos outros”, pondera.

A excepcionalidade do momento, para Saraiva, faz com que os cristãos reforcem sua presença no mundo. A pandemia faz com que reavaliemos o papel da humanidade no mundo, sua relação com a natureza e irmãos.

“Estamos em plena encruzilhada: ou naturalizar a pobreza, como muitos o fazem desde sua indiferença, ou buscar saídas, respostas consistentes para a defesa da vida e dignidade de pessoas, grupos e populações. O Papa Francisco chama não apenas os cristãos, mas a toda a sociedade a sair da acomodação, do preconceito e das justificativas fáceis que nos levam à omissão”, assegura o representante da organização da Caritas.

Trata-se, para Saraiva, de uma jornada que quer eliminar os três “C”: concentração, competição e consumismo. “Três ‘Cs’ que produzem desigualdade, individualismo e destruição ambiental”, explica.

Mais pobres

Nesta edição da campanha, a própria Cáritas Brasil traz um dado alarmante para o país: de 2014 a 2018, a renda dos 40% mais pobres caiu, em média, 1,4% ao ano. São 85 milhões de pessoas, de acordo com o Banco Mundial, empobrecendo continuamente. O papel da Igreja para reduzir este número é crucial.

“O que uma comunidade cristã diria, por exemplo, do Mapa da Desigualdade referente à cidade de São Paulo?”, indaga Saraiva. “É preciso cultivar uma espiritualidade encarnada, do Jesus do Reino, que se angustia com o que vê: “vendo as multidões, teve grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,36)”, finaliza Saraiva.


 
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